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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Jogos

Apropriadamente
apropria da mente
a própria mente.

E depois

libertada a mente
liberta da mente
libertadamente.

Enfim.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

I Wanna Hold Your Hand




Meu professor de Física me ensinou que calor é energia em trânsito que passa de um corpo para o outro quando há diferença de temperatura.
Eu estava congelada.
E então eu senti, sua mão pegando a minha.
Antes que as palmas se encontrassem eu senti a tal da energia em trânsito.
Antes que os dedos se entrelaçassem eu pude sentir as faíscas.
A sua mão na minha, caçador. A minha mão na sua, presa. Prisão que acende as veias e relaxa as juntas.
O movimento de nossas mãos dadas enquanto caminhamos. O afastar de palmas e estrangular de dedos. O seu aperto abraçando minha mão de volta na sua. A intensidade do reencontro. Seu polegar traçando círculos no dorso da minha própria mão.
Calor.
Eu estava congelada.
Quando sua mão pegou na minha eu passei a derreter.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Desmoronamento

Já fui carvão.
Já fui mármore.
Já fui grafite.

Pedra, pedra, pedra.

No meio do caminho,
ladrilhando com brilhantes,
essa rua que é minha.

Ah, se a poesia fosse minha!
Seria pedreira, não seria abismo.

Rolo, me enrolo.
Todo tipo de pedra.
Que forma, que funda, que funde.
Que vence, que vende, que vicia.
Polidez.

Pedra, pedra, pedra.

E eu no meio do caminho

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Mudez

As lágrimas caem, mas as letras não.
As lágrimas conseguem transbordar  e rolar rosto abaixo, mas as letras parecem agarradas à caneta, teimando em não cair no papel.
As lágrimas não.
Elas caem uma por uma. Uma delas pinga no papel. A outra, percorre todo o caminho entre a ponte do nariz e aquela pontinha que algumas pessoas têm demais e outras de menos. A outra lágrima até parece fazer força para não cair, mas despenca pesada dos cílios se juntando às outras em pequenas poças no papel pautado.
As lágrimas não são como as letras. Elas não se alinham uma atrás das outras em um risco, respeitando parágrafos e margens. Se juntam em poças, caindo cada qual em seu próprio espaço, criando um novo propósito para a folha em branco.
Onde uma lágrima cai, a letra não corre.
As poças de lágrimas vão se juntando e penetrando no papel, como tinta alguma poderia fazer, até que ele rasga. Ele fura. As lágrimas podem fazer isso; elas furam.
As letras não.
O papel rasgado fica manchado. Não é sangue, e nem tinta, mas mancha da mesma forma. Depois que seca, todos podemos saber que ali caiu uma lágrima. Que ali o fluxo de emoções era tão forte, tão constante, tão inexplicavelmente envolvente que nenhuma letra ousou cair no papel.
Nenhuma letra, depois de tantos sentimentos, depois de tanto pensar, de tanto sentir, de tantos sabores e dissabores ousou cair no papel- só as lágrimas.
Depois que cada lágrima traçou seu caminho marcando um rosto, marcando um papel, que cada uma se juntou, molhou, rasgou e manchou o que precisava ser dito finalmente o foi.
Que as lágrimas caem. Que as lágrimas falam. As letras não.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Rememoração

A conchinha é pra mim o início.
Um ato, uma promessa, e enfim...
Já não se está mais sozinho.

O canhoto de cinema
O canudo daquele suco
O botão da sua camisa...

Toda uma história dentro de uma caixa.
De uma caixinha.
Tal como aquela conchinha.
Sozinha.

É do pequeno que nasce o grande.

É do silêncio que nasce a dúvida
E é da dúvida que nasce o fim.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Carta de Inverno

São Paulo, 15 de setembro de 2014

Ilustríssimo senhor São Pedro,

o Senhor bem sabe que não sou de pedir muito. Até porque não tenho muito o que oferecer em troca... eu poderia dar pulinhos e gritinhos. Ou desvirar sua imagem depois de mergulhá-la em água. Ou até rezar alguns pais-nosso e ave-marias.
A verdade é que o pedido é por mim, pelo Senhor e todos os interessados.
Mande chuva...
Chuva para molhar os campos e as represas.
Chuva para abastecer as esperanças, que encontram-se na pior estiagem de todos os tempos.
Chuva para afogar os males que andam por aí incendiando os nossos sonhos.
Chuva para transbordar nos olhos das pessoas- que não sabem mais chorar diante tantas atrocidades.
Chuva para refrescar nossa memória... esquecemos nossa história! Repetimos os mesmos erros de novo e de novo.
Chuva para limpar as consciências e os rios: não sei dizer quais estão mais poluídos.
Chuva para cultivar a terra e as ideias, que andam tão escassas! Andamos carentes desses frutos e a feira é cara...
Chuva para florir os corações, que estão já quase mortos, já quase inertes, precisando de chuva, precisando de cor.

Mande chuva, São Pedro!
Mande água.
Mande vida.
Mande Luz!

                                                           Com todo o respeito, e toda urgência,

                                                                                                   uma Devedora

sábado, 16 de agosto de 2014

Otimista

Eu achei que estaria livre.
Livre pra sentir intensamente.
Livre pra reencontrar um otimismo perdido.
Ainda é relíquia.

Estou presa.
Presa nessa encruzilhada em que todos os caminhos me afastam...
Todas as pegadas são as tuas;
Todas os livros falam de Sofia.

E você livre está.
A borboleta encontrou suas asas e voou.

Só queria que você soubesse que cheguei bem. Só não cheguei onde queria.

Ainda.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Retirante

Foi tanto que se foi.
                      Foi o vento
                      Foi a chuva
                      Foi o abraço.
            Só não foi a saudade. Mas vai, vai-se embora!

Foi tanto que não se foi.
                   Ficou o vazio.
                   Ficou a janela.
                   Ficou tudo trancado.
Então vai, solidão; vai-se embora!

Foi isso que se foi.
                    Foi o riso.
                    Foi o amigo.
                    Foi doído...
E se foi, foi-se embora.

Foi eu que não foi.
               Fiquei sozinha.
               Fiquei esperando.
               Fiquei de fora.
Mas agora cansei; e vou-me embora.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Fragmento

Agora Eliza entendia quão ingênuas eram as pessoas; pessoas como ela, Cezar, Fabrizio. Até mesmo Vinicio, Samanta e sua avó.
Ingênuas por acreditarem ser livres. Por acreditarem que seus sonhos podem ser como pássaros, que alçam voo, brilham ao luar e fazem seus ninhos sob o calor do sol, esperando que os ovos enfim se choquem e que dali cresçam outros sonhos, fortes e saudáveis.
Estupidez.
Nossos sonhos, agora ela percebera, não passam de pequenos e insignificantes insetos que, imprudentes e inconsequentes, acabam presos numa poderosa teia de armações e enganos, para que depois- agonizantes- sirvam de alimento para a mais temível predadora,  a mais ardilosa das espécies de aranha.
Aquela conhecida como Esperança.

~trecho do futuro livro, ainda sem roteiro, ainda sem nome~

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Angústia

Noites como esta são as que mais me angustiam.
Noites vazias como minhas lembranças, de cheiros esquecidos e palavras borradas-
De sentimentos remexidos e promessas quebradas.
Noites vazias. E eu, oca.